Quando o verão termina e se inicia o outono, o cabeleireiro Robson Trindade, do salão Red Door, da capital paulista, já sabe o resultado: lá vem a mulher bandida, ou seja, com o cabelo preso ou armado. Piada à parte, na hora de contabilizar a displicência com as madeixas, o estrago é grande.
Cabelos ressecados, com pontas duplas, opacos, desbotados e até esverdeados pela ação de produtos usados na limpeza da água de piscinas desencadeiam uma corrida aos salões.
Para entender o que acontece, o dermatologista e tricologista Valcenir Bedin explica que o cabelo é constituído de uma haste com células especiais e também uma grande quantidade de proteínas. A parte central do cabelo (córtex ) é envolvida por uma película denominada cutícula, disposta na forma de escamas ou telhas, bem encaixadas umas às outras, para que possa haver uma proteção adequada.
– Toda vez que a cutícula for agredida, o cabelo estará sujeito a modificações estéticas e até mesmo relacionadas à sua estrutura. A radiação ultravioleta atinge esta cutícula e faz com que a mesma perca a sua característica fundamental de encaixe, originando aberturas que acabam favorecendo a agressão de poluentes, e de agentes físicos e mecânicos. É muito importante que, de alguma forma, o cabelo seja protegido durante todo o verão, com chapéus e protetores especiais.
Também no verão são comuns as queixas de oleosidade excessiva, independentemente do tipo de cabelo. Segundo Bedin, a glândula sebácea produz oleosidade mais intensamente nesta época, estimulada pelas temperaturas elevadas. “A função desse óleo, que se distribui por todo o couro cabeludo, é proteger os fios como uma capa. Mas, com as lavagens diárias, as pontas dos cabelos acabam ficando ressecadas. O ideal seria lavar a cabeça um dia sim, um dia não.”
Um hábito freqüente no verão é prender os cabelos ainda úmidos, o que faz com que os fios fragilizados se quebrem mais facilmente. De acordo com o médico, o problema de quem faz rabo ou trança diariamente é a força empregada ao puxar os fios, podendo levar a uma perda de cabelos, chamada de alopecia de tração.
– Para aquelas que não protegeram os cabelos, nem usaram chapéus, do ponto de vista cosmético, o tratamento deverá ser feito no salão: hidratação profunda, óleos essenciais e aplicação de queratina. Para estragos maiores, deve-se administrar medicamentos por via oral, como vitaminas, sais minerais e aminoácidos.
ARGILA, ÁGUA, PLANTAS
Léo Nunes é a salva-vidas de cabelos do salão Beka, em São Paulo. A profissional observa que a desidratação é o pior estrago causado pela combinação abusiva de sol, água salgada, areia, vento e cloro. Por falar em cloro, as loiras deveriam pensar duas vezes antes de se atirarem na piscina. Os cabelos claros podem ficar verdes. O “efeito marciano” é provocado pelo sulfato de cobre e outros produtos utilizados no tratamento da água. Quando o dano é causado e não há um salão por perto, a especialista ensina um truque que ajuda a amenizar o estrago: jogar nos cabelos água morna com uma aspirina efervescente dissolvida. Outra dica é usar xampus (em geral, importados) com pigmentação roxa ou violeta, que ajudam a eliminar o tom esverdeado. “Mas, se a situação for grave, o jeito é procurar um salão o quanto antes e passar um tonalizante.” No caso de pontas duplas, a melhor solução é aparar os fios.
Léo sugere dois tratamentos pós-sol para recuperar a saúde dos fios: argiloterapia e reposição fotônica. A escolha vai depender do grau de ressecamento. A argiloterapia é indicada para todos os tipos de cabelos e consiste em remover resíduos como cloro, sal e produtos químicos.
– Passo-a-passo – No cabelo ainda sujo e seco, passa-se óleo mineral, higienizando o couro cabeludo. Depois de enxaguar esse óleo, aplica-se uma máscara de argila branca, rica em sais minerais, deixando esta agir por 15 minutos. Retira-se com água morna e, depois, o cabelo é lavado com xampu suave. Por último, usa-se uma máscara selante para unir as escamas.
Já a reposição fotônica é o último recurso em tratamentos para fortalecer cabelos fragilizados, de forma profunda e intensa. “Tem a função de repor todos os nutrientes essenciais que os cabelos perdem diariamente, como queratina, proteína, aminoácidos, enxofre, e ajuda a fechar as escamas.”
– Passo-a-passo – Lava-se o cabelo com um xampu anti-resíduos, retira-se parte da água do cabelo e aplica-se a queratina hidrolisada. Depois, um aparelho que emite uma luz azul (fotônica) “empurra” a queratina para o córtex dos fios e facilita a absorção dos nutrientes.
No Tampopo Hair Cutting Team, a água é a solução para recuperar cabelos danificados por agentes como sol, areia, mar e intervenções químicas, como colorações, alisamentos e permanentes. Um aparelho chamado Micro Mist produz uma névoa microscópica e tem sua ação potencializada através de ondas ultra-sônicas controladas. “O tratamento pode ser realizado apenas com a água, mas o ideal é que seja potencializado com a aplicação de um agente denominado CMC (Cell Menbrane Complex). “Máscaras e hidratantes capilares também podem ser utilizados”, afirma Jonas Maciel, hair stylist do Tampopo.
Já Robson Trindade, do Red Door, aposta numa tendência mais naturalista, à base de extratos botânicos, óleos essenciais e aromaterapia. O tratamento chamado Aetheroleum deve ser feito uma vez por semana (quatro sessões). “A cliente compra as ampolas de óleos essenciais e a aplicação é feita no salão.” Um coquetel à base de melaleuca, alecrim, limão, ylang-ylang, laranja doce, cedro, sândalo, gerânio e germe de trigo, segundo o profissional, devolve a força, resistência e brilho dos fios. Os produtos são aplicados com a ponta dos dedos. Depois é feita uma pausa com LED (Light Emission Diod), aparelho que emite uma luz azul, enxagua-se e pronto.
Para cabelos cacheados, a dica é o Deva Curl, tratamento à base de princípios botânicos que recupera o movimento dos fios pelo alto poder de hidratação. Primeiro, Robson desembaraça os fios com as mãos – sem usar pente nem escova, para evitar eletricidade estática. Depois, aplica um xampu sem sal nem sulfato, que não faz espuma e possui anti-sépticos naturais, como rosa turca e menta. O produto elimina resíduos e auxilia na nutrição do couro cabeludo. Os fios são enxaguados e recebem um condicionador. O couro cabeludo é massageado, novamente enxaguado e o excesso de água é eliminado com papel, para evitar fricção com toalha, que é mais agressiva aos fios já danificados. Para disfarçar pontas duplas, o especialista indica o AnGell, leave-in com fórmula suave, que elimina o aspecto frisado. “Mas o melhor mesmo é cortar as pontas”, sugere.
TRATAMENTO NATURAL
Freqüentes na aromaterapia, os óleos vegetais também são usados com fins estéticos e restauradores. Fecham a cutícula e revestem o fio com uma película protetora, que devolve o brilho, a suavidade e a maciez. Leonardo Wichrowski, autor do livro “Terapia Capilar – Uma Abordagem Complementar”, e atuante na área de medicina estética, observa que é comprovada a eficácia dos óleos essenciais nas suas ações anti-sépticas, cicatrizantes, antiinfecciosas e estimulantes do couro cabeludo. “Sempre são diluídos em óleos vegetais, escolhidos de acordo com o tipo de cabelo.”
Entre as indicações, o milefólio atua como um estimulante do crescimento dos cabelos; a sálvia tem poder regenerador, ação anti-séptica e bactericida; o louro é um excelente tônico para o couro cabeludo; o alecrim melhora a circulação, limpa e estimula o couro cabeludo e combate infecções; o capim-limão equilibra a oleosidade e tem ação antifúngica; o benjoim é recomendado para tratar couro cabeludo ressecado e com dermatite.
Sempre é bom lembrar que a beleza dos cabelos está ligada ao conteúdo hídrico do fio. A perda da água prejudica a coesão das células da cutícula, o que deixa as escamas abertas e o cabelo áspero e sem brilho. Por isso, são recomendados produtos formulados com aminoácidos (como os derivados do leite, trigo e seda) e proteínas hidrolisadas. Ainda, as ceramidas conferem brilho e são ótimas para o condicionamento; os silicones melhoram a “penteabilidade” e o brilho; e os lipídios de origem animal – como a lanolina – são ótimos para hidratar e proteger os fios.
Para cabelos ressecados, a psicóloga e especialista em aromaterapia Samia Maluf, dona da By Samia, indica óleo de laranja (revitalizante) e vinagre de sidra (para dar brilho).
Receita: colocar 5 gotas de óleo de laranja em 1 litro de água e adicionar 5 colheres (sopa) de vinagre de sidra. Lavar a cabeça com um xampu neutro e jogar esta mistura. Os óleos de cenoura, jojoba, palma rosa, lavanda, gerânio, cedro e sândalo também são indicados para recuperar a saúde das madeixas.